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Live Summer Fest 2011
23.09.11 - Coliseu Micaelense, Ponta Delgada

Pontualidade cirúrgica no início dos espectáculos. Os DEATH PARADOX estremeciam com a estrutura do Coliseu ao som de um metalcore “bastardo”, suficientemente mesclado com várias nuances mais contemporâneas. Aliás, a melodia será uma das maiores surpresas deste colectivo, como prova o tema “Damn Curse” recentemente lançado no Myspace.

“Vítimas” de uma reestruturação interna, que justifica uma sonoridade mais madura do que a que os vimos explanar na última aparição ao vivo, há dois anos, ainda assim prevalece uma certa desconexão de ideias, prejudicando a eficácia e assimilação dos temas. Diríamos mesmo que a banda deveria converter os seus ímpetos agressivos em algo mais directo e melódico como o conseguem com sucesso no tema atrás referido. No cômputo geral, é impossível não realçar a evolução do grupo, sobretudo em termos vocais, o que nos faz encarar o futuro com optimismo.

Sem dúvida um dos momentos mais aguardados da noite, os NABLEENA assinalaram um poderoso regresso aos palcos, nem denotando a longa ausência dessas andanças. Foi a experiência e o talento a falarem mais alto, com um cenário musical e teatral de arrepiar. Se o seu som é muito sui generis – prog death/black/doom metal étnico -, a mestria técnica e interpretativa de Gualter, Petr e João Melo, sobretudo, convenceram todos os presentes, embora deixando um misto de felicidade e tristeza, por sabermos que o futuro da banda é incerto. Entre temas já com vários anos e outros da sua demo promocional de 2009, foi um regalo admirarmos a aura poderosa do grupo, com a convicção e solidez de que se fazem as bandas de eleição.

A fechar a noite, um dos dinossauros do hard’n’heavy nacional, os TARANTULA, não deixaram os seus créditos por mãos alheias e presentearam-nos com uma actuação repleta de profissionalismo. O virtuosismo de Paulo Barros deixou, mais uma vez, todos de queixo caído e o poder comunicativo de um verdadeiro frontman como Jorge Marques, nunca deixou esmorecer uma plateia que, como bem se sabe, está mais talhada para o som mais rasgado e, consequentemente, o mosh violento. O encore com “Smoke On The Water” foi o auge de uma actuação, como não poderia deixar de ser, com especial enfoque no mais recente “Spiral Of Fear”, mas sem faltar os clássicos. Puro glamour.

PS: Por motivos pessoais não nos foi possível assistir ao concerto dos Crossfaith, pelo que, desde já, pedimos as nossas desculpas pelo lapso.

DEATH PARADOX
[André Tavares – vocalista]

Como tem sido o dia-a-dia da banda nos últimos tempos?
Demos uma entrevista recentemente e temos ensaido duas a três vezes por semana.

Sendo que a banda já prepara um registo de estreia, que detalhes pode avançar nesse aspecto?
Estamos a planear lançar um EP com seis temas, talvez para meados de 2012. Relativamente à produção, esta está a ser assumida pelo Zé Oliveira, guitarrista dos Neurolag.

Que balanço fazem da vossa participação no Live Summer Fest, que é, aliás, a primeira num festival de projecção internacional?
Foi muito positivo. Abrir um festival deste calibre foi um grande desafio para nós e uma óptima oportunidade para estrear um novo line-up e uma nova sonoridade.

O facto de partilharem o palco (e o backstage) com bandas internacionais trouxe-vos um enriquecimento extra?
Exacto, recebemos muitas críticas positivas que nos vão ser muito úteis no futuro. Conseguimos contactar com os Threat Signal e foi possível perceber que são pessoas muito simples, modestas e com a mente muita aberta. Por exemplo, achei curioso dizerem que praticamente não ensaiam, fazem-no em cima do palco. Isso para nós é algo completamente estranho! Também achei interessante ver que não estavam nada nervosos, antes pelo contrário. Para eles actuar é algo bastante normal.

Como qualifica a organização do Live Summer Fest?
Bastante boa, ainda para mais em comparação com o Concurso de Música Moderna da Ribeira Grande que foi o único sítio onde tínhamos actuado até agora. Em geral, estava tudo muito bem organizado – entradas muito controladas, não houve problemas com o material. A nível de som, os técnicos também se mostraram muito competentes.

2012 adivinha-se um ano de ainda maior contenção financeira. Será este um golpe demasiado rude para as aspirações das bandas locais ou já têm planos para contornar este problema?
Por exemplo, temos uma conta bancária onde todos os meses depositamos algum dinheiro, para o caso de ser preciso comprar algum prato, baquetas, acorrer a alguma avaria. E temos para o ano o objectivo de participar no SWR Barroselas Metal Fest. Sabemos que 2012 não vai ser fácil, pois os apoios do Governo estão muito limitados. Contudo, vamos fazer os possíveis para contornar essa situação. Talvez o mais negativo no meio disto tudo, é que não podemos exigir valores "exorbitantes" a nível de cashets. Mas nós tocamos por gosto, o dinheiro é um extra. E ainda para mais, somos uma banda muito jovem, não pedimos cashet… excepto cerveja! [risos] Gostavamos ainda de participar no concurso Wacken Metal Battle que dá a hipótese de ir tocar ao Wacken Open Air e fazer uma tournée com os Asking Alexandria, uma das nossas maiores referências no campo do metalcore.

NABLEENA
[Gualter Couto – baterista]

Os Nableena estiveram afastados dos palcos cerca de dois anos. Neste momento, estão reunidos, mas será algo para continuar?
Não retomaremos a actividade a 100%, uma vez que temos um elemento da banda a viver noutro país. O nosso futuro é uma incógnita, mas é certo que continuaremos a compor com recurso à tecnologia, trocando ficheiros por e-mail, etc. A disponibilidade para ensaiarmos é muita reduzida, até porque vários elementos têm outros projectos. Posto isto, a melhor opção é cada um desenvolver as suas ideias em casa e depois partilhá-las.

Não será, portanto, isso que deitará por terra as aspirações da banda…
Exacto, apesar de o Petr ir passar, no mínimo, mais três anos em Inglaterra. Na verdade também não sei o meu futuro e o dos meus companheiros, mas é certo que continuaremos numa base de nos juntarmos para tocar ocasionalmente… e divertirmo-nos! Os concertos passam a ser um extra.

Como se sentiram ao regressar aos palcos ao fim de tanto tempo?
Estávamos muito nervosos, mas fizemos um grande esforço para soarmos coesos durante os ensaios prévios e bastante intensivos, diga-se. Havia muitos elementos que já não tocavam o seu instrumento há muito tempo e muito menos em conjunto. Até no teste de som estávamos reticentes. Mas o concerto acabou por correr muito bem. Pessoalmente, assim que começou o concerto dissiparam-se-me os nervos por completo. Acho que nos surpreendemos a nós próprios. Todos gozámos o momento e sentimo-nos muito à vontade.

Que importância dá ao Live Summer Fest, ainda mais numa época de crise?
Valorizo-o como qualquer outro evento feito na região. Apesar de algumas divergências, penso que a família heavy metal está unida. Sendo que os eventos e os fãs deste género escasseiam cada vez mais, qualquer actividade em prol do heavy metal é muito positiva. Sem dúvida que é de louvar a iniciativa de fazer um festival nas ilhas, muitas vezes com um esforço inglório. Mas é muito importante para manter a “chama” viva.

O próximo ano adivinha-se ainda mais complicado. Será que isso o preocupa?
Estou consciente de que haverão mais obstáculos, mas acho que o metal vai sempre sobreviver. Isto é um ciclo. Apesar de até poder haver anos em “branco” em termos de eventos, creio que o underground continuará forte. E vamos ter a esperança de que no futuro as coisas melhorem.

CROSSFAITH
[Pedro Andrade – baterista]

Ultimamente os Crossfaith têm estado bastante ocupados com a sua agenda ao vivo. No entanto, isto impede que já comecem a pensar num novo disco?
Daqui para a frente não se antevê tanto trabalho como no Verão. Por isso, a ideia daqui para a frente é trabalhar melhor os temas que, inclusive, já temos tocado ao vivo, de forma a prepararmo-nos para uma gravação. Neste momento, estamos com seis temas novos, mas o possível formato da sua edição ainda está por definir. É possível que o próximo plano passe por gravar um álbum.

Que balanço fazem da vossa actuação no Live Summer Fest?
Entendo que foi muito positivo, na medida em que o som, e até segundo opiniões exteriores, foi o melhor da noite. E isto, diga-se, foi uma grande sorte para nós, embora não devesse dizer isso, pois pode ser mau para os Tarantula. De qualquer forma, a sensação que tive em palco foi a de que tivemos um belíssimo som. A par disso, a adesão do público foi muito boa.

Embora talvez não consiga ser totalmente isento, uma vez que é colega de banda do Rui Sousa (organizador), gostava de pedir a sua opinião geral sobre o Live Summer Fest.
Penso que o balanço do primeiro dia é bom [NR: Entrevista efectuada no dia 23.09.10]. O festival continua a ter bastante adesão por parte do público. Acho igualmente que o facto de o festival este ano decorrer num recinto fechado também veio ajudar. O cartaz é bastante chamativo e variado. Penso que é um evento que merece ter continuidade, uma vez que tem sido sempre bem correspondido pelo público. Curiosamente, tenho visto muitas pessoas da ilha Terceira que se deslocaram de propósito para apoiar as bandas suas conterrâneas.

Sendo que 2012 se adivinha um ano ainda mais complicado em termos financeiros, o que espera dos próximos tempos nos Açores em termos de heavy metal?
Julgo que a crise se vai manifestar em todas as áreas e a nível de vendas de discos então nem se fala. Cada vez haverá mais dificuldades no que respeita a apoios para deslocações e eventos. Será mais complicado daqui em frente, estou certo.

TARANTULA
[Jorge Marques – vocalista]

Conta-se cerca de um ano desde a edição de “Spiral Of Fear”. Que balanço fazem do seu impacto até ao momento?
O álbum foi lançado no final do ano passado, mas a promoção propriamente dita só começou a meio de 2011. Portanto, penso que é prematuro falar em balanços. Todavia, o feedback que recebemos até ao momento é bastante positivo, a julgar pelos espectáculos e até pelas próprias vendas. Acredito que estamos no bom caminho.

Já que fala em vendas, pode afirmar-se que o metal clássico continua a seduzir as novas gerações?
É sempre discutível, porque quem gosta deste género de música segue um padrão. É evidente que os tempos mudam e as bandas também têm que se adaptar a essas mudanças. Creio que temos feito isso ao longo do tempo, em especial nos últimos trabalhos, mas sempre sem perder um fio condutor. Entendo que temos feito uma boa gestão destes dois factores e estamos felizes, acima de tudo, pelas músicas que criamos.

Nos últimos dez anos lançaram apenas três álbuns. Isto reflecte que já não cumprem aquela rotina de gravação/digressão/gravação?
O que se passa é que editamos os discos quando nos convém. Não sentimos qualquer tipo de pressão. Além do mais, estamos envolvidos com outros projectos, nomeadamente musicais - uma escola de música, um estúdio. Por isso, as nossas músicas vão surgindo com o tempo e quando achamos ser a altura ideal, lançamos os nossos discos.

Até por não ser a primeira vez que estão nos Açores, e por, eventualmente, conhecerem um pouco do movimento local, que comentário lhe merece o Live Summer Fest?
Como disse no espectáculo, com toda a sinceridade, admiramos imensamente o esforço feito por todas aquelas pessoas que se dedicam a este estilo de música, pelas dificuldades inerentes a ter um grupo desta natureza, principalmente numa ilha, onde estão confinadas a um isolamento que nunca é benéfico. Mas, no fundo, também é um factor que obriga as pessoas a esforçarem-se ao máximo para evoluir e aprender. Tenho constado isso mesmo, o surgimento de bandas com bastante qualidade, o que não me surpreende porque os Açores têm tradição na música. E talvez mais do que ninguém, para uma banda como a nossa que está cá há muito tempo e tem sofrido este “vai-e-vem” de dificuldades, sabemos o que é remar contra a maré. Por isso, valorizamos imenso qualquer evento que surja nas ilhas. São momentos únicos e de grande motivação para todos.

Texto: Nuno Costa
Fotografia: André Frias (www.contratempo.com)

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