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Os românticos do metal

É pergunta que ocorre não poucas vezes a quem está ligado a esta “coisa” (sem qualquer sentido pejorativo) das fanzines, webzines, blogues, programas de rádio e afins, amadores, especializados em Metal: Será que vale a pena?

Tirando os poucos felizardos que conseguem dar sequência ao seu trabalho de promoção ao género, normalmente com a mesma história de fundo, profissionalizando-o em revistas ou programas de rádio de grande impacto, todo o resto não passa de uma classe de “guerreiros” teimosos, mas, claro está, apaixonados. Uns românticos, para ser mais justo.

Se a beleza desta actividade – “underground” – está em manter a pureza, que dizer quando esta nos leva a ultrapassar a lógica da evolução e sustentabilidade que rege as nossas vidas? Para muitos não é legítimo – para aqueles que nunca passaram pela experiência – pensar-se assim e aspirar-se ao sucesso exponencial, aquele que envolve remuneração, mas esta é a base fundamental para garantir a evolução e longevidade de qualquer projecto.

É profundamente triste quando vemos algumas publicações de longa data, como o Lusitânia de Peso, encerrarem funções e outras que, por motivos pessoais/profissionais dos seus líderes, acabam por ficar submetidas a estados moribundos às vezes irreversíveis. Se recuarmos um pouco mais não há como não lamentar o desaparecimento do histórico Metalincandescente, para além de outros soberbos projectos como o Underworld – Entulho Informativo. Até o açoriano – e pioneiro – Metalicidio acabou por transformar-se num cemitério de comentários, onde outrora vibravam os fervorosos metaleiros locais no seu movimentado fórum.

Mas para quê lamentar essa realidade, passada, quando hoje em dia continua a haver vários e bons sítios onde sacar toda a informação sobre o nosso género musical preferido? É uma verdade palpável, mas quem está minimamente a par do que se passa nos bastidores dessa nobre actividade, sabe que tudo se faz, na mesma, sob um esforço imenso (e inglório), tirando uma ou outra cadeia internacional mais poderosa.

Já dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Mas de que valerá tanta grandeza se apenas moral e pessoal? As pessoas que gerem este tipo de publicação procuram, sobretudo, elevar um género (que toca a milhares de pessoas), propagar como que uma “religião”, mas que invariavelmente acabam por sentir a necessidade de serem ouvidas e/ou correspondidas. Até porque do outro lado há um mainstream “arrogante”, mas poderoso e senhor do seu nariz… e com uma legião infindável de devotos e activos seguidores. Do lado de cá da barricada há muito (demasiado) de teórico e pouco de prático; um lado onde a solidariedade e a união são sacramentos frívolos e hipócritas. Por isso mesmo, vemos tantos projectos aparecerem e desaparecerem, numa sensação de descartabilidade que normalmente se atribui ao mainstream… aquele de que todos dizem mal mas, no fundo, invejam.

O que essas pessoas – as que promovem das mais variadas formas o Metal - pedem? Alguma reciprocidade, a suficiente para justificarem a sua existência. A verdade é que todas elas trabalham abaixo do limiar da visibilidade aceitável e o seu destino é fatal. Ninguém parece preocupado com isso.

O assunto é profundo. Temos, afinal de contas, meios de promoção amadores a mais do que o necessário no plano nacional? A resposta parece-me óbvia. Os únicos que apelarão à sua proliferação são as próprias bandas que, a cada lançamento, não desperdiçam qualquer blogue, site, rádio ou revista para promover o seu trabalho. É lógico: a promoção, nessas e noutras andanças, é primordial.

A mudança dos tempos, dos hábitos e das tecnologias, levaram a uma individualização da pessoa enquanto célula social, já que bebe toda a informação de que necessita através de fóruns e, principalmente, redes sociais, de forma rápida, simples e intuitiva. O único senão, é a isenção e profundidade de análise que muitas vezes se perde.

Por estes e outros motivos, o jornalismo especializado amador, nestes meandros, tenderá a perder importância e os seus responsáveis aperceber-se-ão da ineficácia do seu trabalho ao ponto de o abandonarem progressivamente. Aí, remodelar-se-ão todos os princípios de promoção (se já não se estão a remodelar) e serão os próprios interessados a terem que assumir esta função. Resta saber se estarão à altura. É que o acumular de mais esta função implicará tempo, que poderia ser canalizado para outras coisas. Para além de que… tempo é dinheiro e nestas andanças todos sabemos que este escasseia.

Este encadeamento de ideias faz-nos acreditar que este ciclo banda-edição-promoção poderá reverter para as origens dentro de alguns anos, mas talvez esta seja, novamente, uma visão… “romântica”. O mercado em questão, vasto, como sempre foi (apesar de minoritário num plano geral), ditará as regras… caso ainda houvesse esperança de ser regido pelo sentimento de paixão que tinha outrora.

Nuno Costa

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