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A elite dos metaleiros endinheirados

Nos anos mais recentes aumentou a oferta de eventos de Metal inacessíveis à generalidade das bolsas, que a recessão mundial se encarregou de agravar, não obstante os atractivos fornecidos. Os médios e grandes festivais europeus são disso exemplo. Apesar dos incentivos oferecidos pelos organizadores e promotores (acampamento e estacionamento gratuitos, pacotes promocionais, ofertas várias, vouchers e outros descontos, etc.) os fãs desembolsam pequenas fortunas em bilhetes, viagens, estadias, comida, bebida e merchandise. Nem os melómanos residentes nos países organizadores escapam ao genocídio da sua economia doméstica.

Assola-nos então a pergunta óbvia: estará o Metal a tornar-se um género musical elitista? Obviamente que não, dado a oferta lúdica e cultural em torno do Som Eterno englobar numerosas soluções dirigidas aos vários estratos socioeconómicos. Porém, é verdade que, à semelhança das outras formas artísticas, a oferta lúdica e cultural disponível tende naturalmente a especializar-se ao mesmo tempo que se expande, disponibilizando os operadores produtos e serviços dirigidos a públicos-alvo segmentados por classes económico-sociais. Ao contrário do que alguns puristas fanáticos defendem, não é o aumento da oferta cultural dirigida às elites metaleiras que torna o género mais falso ou mainstream.

De facto, os fãs economicamente independentes, com salários superiores à média e poder de aquisição correspondente, formação superior, bem sucedidos em termos profissionais, não raras vezes assumindo cargos de topo ou intermédios, tornaram-se nos anos mais recentes um nicho de mercado particularmente apetecível, atraindo empresas prestadoras de serviços de luxo e outras gamas altas no sector do entretenimento e do lazer. Ou seja, está em marcha a criação de novos modelos de negócio, inovadores, com produtos e serviços de elevada qualidade e grau de personalização dirigidos a um público exigente, dotado de enorme potencial consumista.

70 mil toneladas de Metal flutuante
A mais recente prova da tendência foi o anúncio do inovador cruzeiro/festival temático flutuante 70000 Tons of Metal (www.70000tons.com), a realizar entre 24 e 28 de Janeiro de 2011 a bordo do luxuoso transatlântico Majesty of the Seas com partida de Miami, na Flórida (EUA), escala em Cozumel, no México, e regresso a Miami. Ao longo dos cinco dias e quatro noites que dura a viagem 40 bandas farão a bordo dois espectáculos cada, em vários palcos ao ar livre e em salas fechadas, prevendo-se a realização de oito concertos diários (no momento em que redijo estas linhas - iniciadas a 2 de Abril - está confirmada a presença dos Moonspell, Death Angel, Saxon, Amon Amarth, Epica, Stratovarius, Obituary, Trouble, Finntroll, Sodom, Sonata Artica, Raven, Uli Jon Roth, Swashbuckle e Witch Burner, assegurando uma ampla e diversificada oferta musical). Além dos espectáculos realizar-se-ão workshops, sessões de autógrafos, festas de karaoke e eventos análogos.

Durante o cruzeiro dois mil passageiros/fãs irão partilhar o mesmo espaço que as bandas 24horas por dia, num conceito de backstage pass ilimitado. A calendarização dos eventos será conhecida algumas semanas antes da partida, assegurando a canadiana Ultimate Music Cruises Inc. (www.umcruises.com), organizadora do evento, que as mesmas duas bandas não actuarão em simultâneo mais de uma vez, garantindo assim que os fãs tenham possibilidade de ver todos os grupos ao vivo. Os preços variam entre os 666 dólares (cerca de 498€) e os 2999 dólares (2241€) por cabeça, conforme a localização dos quartos e das suites, bem como do número de pessoas e de camas por cada espaço de alojamento.

Sendo este conceito particularmente atractivo, e fazendo fé na designação da empresa organizadora, facilmente depreendo que outros cruzeiros temáticos baseados noutros géneros musicais poderão ser igualmente uma realidade. Ou, quem sabe, a repetição do evento 70000 Tons of Metal, se a receptividade dos fãs o justificar. O potencial é enorme, “matéria-prima” – vulgo bandas - não falta, público (aparentemente) também não (a julgar pelo animado fórum alojado no site do evento) e as ideias abundam. Aguardo expectante a oferta que a Ultimate Music Cruises Inc. nos reservará no futuro.

A título de curiosidade, permitam-me enunciar as características distintivas que fazem do megalómano Majesty of the Seas uma verdadeira pérola dos mares. Alvo de uma remodelação em 2007 na ordem dos 36 milhões de dólares o transatlântico, explorado pela Royal Caribbean International, pesa 73,941 toneladas, mede 282 metros de comprimento e 32 metros de largura, tem 12 andares, emprega 833 tripulantes e tem capacidade para receber 2,744 passageiros. É dotado de um enorme ginásio equipado com aparelhos modernos, várias piscinas, casino, bares recheados, diversos restaurantes e numerosas outras infra-estruturas. Um navio digno de receber passageiros de peso.

Ao sol de Ibiza
Com moldes diferentes mas dirigido ao mesmo nicho endinheirado, embora adepto das sonoridades mais melódicas do Metal, o primeiro evento Hard Rock Hell Road Trip (www.hrhroadtrip.com) - organizado pelos promotores do festival britânico Hard Rock Hell, actualmente realizado em Pontin's Holiday Village, Prestatyn, no País de Gales, e que este ano realiza a sua quarta edição -, acontece na selectiva ilha espanhola de Ibiza entre 2 e 9 de Junho próximo.

Durante uma semana mil fãs irão assistir a concertos de 20 bandas internacionais – a que deverão acrescentar-se algumas espanholas - à razão de quatro por cada uma das cinco noites temáticas dedicadas aos subgéneros/temas Classic Rock, New Wave of British Heavy Metal (NWoBHM), Battle Metal/Metal Clássico, Jovens Talentos e Prog Metal. Os órgãos de comunicação social “Classic Rock”, “Metal Hammer”, “Classic Prog”, Rock Radio e Scuzz TV, que patrocinam o evento, terão cada um o seu próprio espaço, onde irão decorrer várias actividades lúdicas e culturais relacionadas com a música pesada. Wolf, Grand Magus, Die Apokalyptischen Reiter, Alestorm, TYR, Battlelore, Attica Rage, Girlschool, The Quireboys, Spit Like This, Gun e Neil Buchanan's Marseille são algumas das bandas cuja presença está assegurada.

Além dos concertos o evento inclui longas sessões de DJing, espectáculos unplugged em espaços junto à praia ao pôr-do-sol, passeios de catamarã, prática de desportos vários, com especial destaque para os aquáticos, um rally ao ar livre, sessões de karaoke, etc. Os ingressos, individuais, custam 190 libras (218€) para os iniciados ou 180 libras (cerca de 207€) para quem já haja frequentado o festival Hard Rock Hell. As crianças até aos 11 anos têm entrada gratuita e as dos 11 aos 14 pagam 50% do ingresso, estando igualmente disponível um serviço de baby sitting.

No fundo, é todo um novo conceito no que ao turismo musical se refere. As potencialidades estão à vista, abrindo-se interessantíssimas perspectivas futuras no que à oferta dirigida ao segmento alto do mercado metálico diz respeito. Oportunidades de negócio não faltarão certamente, assim a criatividade e a variedade da oferta continuem a ir ao encontro das necessidades de um público tão exigente quanto específico.

Dico

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